Salvem O Museu dos Coches Petição

Salvem O Museu dos Coches Petição
Petição: Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Petição online - Largo do Rato - Crimes urbanisticos à solta em Portugal - 3.




Os nossos esforços junto da comunicação social resultam no texto que se segue, onde é feita alusão a este blogue.




Chafariz do séc XVIII ao lado do qual irá surgir o edificio.

O texto que se segue é retirado da revista 24 Horas de 8-03-2008 por Paula Freitas Ferreiro


"Salvem o Largo do Rato" é o nome de uma petição que já circula na Internet para impedir a construção de um edifício da autoria dos arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus.
O projecto foi aprovado em 2005 pela vereadora Eduarda Napoleão, sob a égide de Pedro Santana Lopes. Mas cabe ao actual vereador da divisão de Urbanismo, Planeamento e Reabilitação da Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Salgado, dar o "sim" final para o arranque das obras. Algo que o responsável não vai assumir sozinho...
Já são muitos os que se estão a juntar para impedir que surja um "monstro" no Largo do Rato. Para além da petição online (presente no blogue Lesma Morta de Jorge Santos Silva), o blogue Cidadania LX também já veio em defesa do local. A acusação que paira sobre o projecto é forte: "Prepara-se para descaracterizar definitivamente esta zona lisboeta e (...) obrigará à demolição de alguns imóveis, nomeadamente a centenária Associação Escolar de São Mamede. Já a sinagoga de Lisboa ficará quase tapada. O chafariz do Rato e o Palácio de Palmela, actual (cont.)



(continuação) Procuradoria-Geral da República, que se localiza mesmo ao lado da obra, perderão totalmente a sua leitura visual", pode ler-se no texto da petição. O repto lançado é claro: "Quanto à edilidade exige-se que interrompa já este despropósito, sob o risco de ficar na história da cidade como responsáveis por tal vergonha", diz o autor do apelo.
Apesar do projecto não ser de agora, a polémica estalou quando o semanário "Expresso" publicou no final do ano passado fotografias de como ficará a zona depois do edifício (de habitação e comércio) estar construído.
(...) "Este projecto é uma herança. O vereador nunca teria decidido pela aprovação do projecto sem antes o ter levado a reunião de Câmara", afirmou fonte próxima de Manuel Salgado. No entanto o vereador já tinha dado a sua opinião ao "Expresso" no tal artigo: "[o edifício] é uma provocação, tal como a Casa da Música, no Porto. Terá detractores e entusiastas, pois não é um edifício anódino. Destaca-se de toda a envolvente. Como arquitecto agrada-me.
Quem não está nada entusiasmado com a possibilidade do edifício vir a ocupar aquela zona de Lisboa é o vereador do PCP, Ruben de Carvalho. "Sou inteiramente contra por questões estéticas e urbanísticas, (...) um espigão ali metido não faz sentido nenhum (...). Espero que não passe em reunião de Câmara (...).
José Sá Fernandes é outro dos que não vêm com bons olhos o edifício. "O meu voto contra está garantido. Acho aquilo muito mau. Não se integra bem na zona, não tem em conta espaços como a Sinagoga e mesmo o Largo do Rato. Tem uma volumetria exagerada para aquele sítio. Espero que ainda se vá a tempo de voltar atrás. O que eu gostava mesmo é que os próprios promotores do projecto, voltassem atrás", afirma o vereador do Bloco de Esquerda.
Carmona Rodrigues (...) recorda-se do projecto. "Lembro-me que é algo diferente, com uma arquitectura um pouco moderna, que se impõe ali de uma forma dissonante tendo em conta o edificado à volta. Mas lembro-me também que havia mais questões a discutir como a questão da Sinagoga ou a proximidade do Metro... Vou aguardar pela proposta ( e então, na altura, irei pronunciar-me".
Fernando Negrão também está à espera de saber mais pormenores. " A única informação que tenho é a das fotografias que o "Expresso" publicou e o que posso dizer é que o impacto visual não é agradável", diz o vereador do PSD (...).
Helena Roseta não se quis pronunciar pois segundo a sua acessora, ainda não temos sequer a informação que o projecto vai a reunião de Câmara".Fotomontagem, Expresso. Composto por 7 pisos acima do solo e 5 de estacionamento, com fachadas entre os 19 e os 22 metros, 10.000 metros quadrados em gaveto.

Fotomontagem, Expresso.

Vista lateral Rua Alexandre Herculano

Salvem o Largo do Rato



Por Jorge Santos Silva



Da autoria de Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, este enorme edifício entre o Largo do Rato, Rua Alexandre Herculano e Rua do Salitre, teve agora luz verde dada pela autarquia lisboeta aos projectos de especialidade. Composto por 7 pisos acima do solo e 5 de estacionamento, com fachadas entre os 19 e os 22 metros, 10.000 metros quadrados em gaveto com apartamentos T0 e T2, trata-se de uma construção que pela volumetria rebenta totalmente com a escala do Largo. O projecto a construir prepara-se para descaracterizar definitivamente esta zona lisboeta e onde para servir tais propósitos o novo prédio obrigará à demolição de alguns imóveis, nomeadamente a centenária Associação Escolar de São Mamede. Já a Sinagoga de Lisboa ficará quase tapada. Esther Mucznik, vice-presidente da comunidade judaica, evoca o cenário um dia discutido quando Jorge Sampaio presidia à Câmara: rasgar um jardim em direcção ao Rato, de modo a abrir a Sinagoga à cidade. Um sonho que passou “Agora estamos encurralados. Mais ficaremos”...
O Chafariz do Rato, da autoria de Carlos Mardel, Sec. XVIII e o palácio Palmela, actual Procuradoria Geral da República, que se localizam mesmo ao lado da obra, perderão totalmente a sua leitura visual.

Apelo à indignação de todos. Quanto à edilidade exige-se que interrompam já este despropósito, sob o risco de ficarem na história da cidade como responsáveis por tal vergonha.

Em nota de conclusão refira-se que Diogo Vaz Guedes, proprietário dos terrenos onde se erigirá a obra e Frederico Valsassina co-autor do projecto, foram ambos membros da Comissão de Honra que levou António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. Já estou como a mulher de César: "Para se ser sério não basta ser, é preciso parecer !"


A construção do edifício obrigará à demolição de imóveis como a centenária Associação Escolar de São Mamede (em cima) e deixará a Sinagoga de Lisboa, 1902-1904, da autoria do Prémio Valmor, o arq. Ventura Terra, totalmente emparedada.

É no passeio em 1º plano que se erguerá a construção em causa.

Em 2º plano o Chafariz do Rato, de autoria atribuída a Carlos Mardel, com a balaustrada ladeada pelos muros que sustentam o jardim da antiga Quinta dos Duques de Palmela, agora Procuradoria Geral da República que com a contrução projectada perdará totalmente a sua leitura.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A propósito da petição acima

A propósito da Petição Salvem o Largo do Rato

Sobre este assunto e como redactor da referida petição, tenho recebido inúmeros e-mails a solicitar que seja retirada a obrigatoriedade do Bilhete de Identidade.
Começo por lamentar antes do mais que quem se preocupa realmente com a cidade o queira fazer a coberto de anonimato, mas enfim pelo menos ainda assim preocupam-se. Por outro lado informo que, uma vez que o destino da mesma é, entre outra, a Assembleia da Republica, que a Lei 43/90 de 10.08 no nº 2 do seu art. 12º, refere que:
A petição é ainda liminarmente indeferida (pela Assembleia da Republica) se:
a) For apresentada a coberto de anonimato e do seu exame não for possível a identificação da pessoa ou pessoas de quem provém (o que a não colocação do BI naturalmente provoca, já que existem nomes idênticos e alguns onde apenas consta o apelido do subscritor).
Aproveito também em meu nome e do Arq. Luis Marques da Silva, como promotores da mesma, para agradecer a todos quantos já assinaram esta petição e pedindo-vos que façam dela um, verdadeiro cavalo de batalha para impedir que este mono seja construído.
Cumprimentos
Jorge Santos Silva
Para assinar a petição carregar no contador de assinaturas ou ver link em desenvolvimento da noticia mais abaixo em Petição online - Largo do Rato - Crimes urbanisticos à solta em Portugal - 3. "O edificio da polémica".

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Aqueduto da Águas Livres - Crimes urbanisticos à solta em Portugal - 1.

Aqueduto das Águas Livres, Séc. XVIII, Museu da Cidade, Lisboa

Actual estado envolvente do Aqueduto das Águas Livres

O Aqueduto das Águas Livres, hoje desactivado, foi mandado construir pelo Rei D. João V, a fim de fornecer água a Lisboa, de acordo com o projecto de Manuel da Maia, tendo abastecido a cidade a partir de 1748. Com 14 Km de extensão desde a nascente principal e diversos aquedutos subsidiários e de distribuição, com um total de 58 Km, abastecia uma rede de chafarizes na cidade. O Aqueduto possui, na sua parte mais monumental, um conjunto de 35 arcos, de autoria de Custódio Vieira, sobre o Vale de Alcântara, onde se destaca o maior arco em pedra de vão do mundo, com 65 m de altura e 32 m de abertura.
Classificado como Monumento Nacional desde 1910, tem nos últimos anos sofrido atentados impossiveis de acreditar. Desde troços de estradas que lhe amputam partes , até à aberrante construção que se premitio nos últimos 30 anos construir à volta da arcaria principal, já de tudo este fabuloso aqueduto viu acontecer. Somos um país pobre, que vive substancialmente do turismo, que não tem assim tanto para apresentar e lança neste desgoverno arquitectónico a envolvente desta obra ímpar? É incrível. Se não se fizer nada a geração dos nossos filhos e netos, terão muito de que se orgulhar. Tenhamos vergonha.
Este é o primeiro de uma série de artigos sobre este tema que tenciono com a vossa ajuda publicar. Colaborem denunciando. Escrevam para o e-mail deste blog: jorge.santossilva@clix.pt que publicarei.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A Dama de Sintra, o apagar de uma memória

Elese Hensler, Condessa d'Edla

De origem Suiça-alemã, Elise Hensler era filha de Friederich Conrad Hensler e de sua mulher, Louise Hensler, e nasceu em La Chaux-de-Fonds.
Aos doze anos, emigrou com a família para Boston, nos Estados Unidos, onde recebeu uma cuidadosa educação. Amante das Artes e das Letras, Elise terminou seus estudos em Paris. Falava fluentemente sete idiomas.

No dia 2 de Fevereiro de 1860, Elise chegou a Portugal como membro da Companhia de Ópera de Laneuville, para cantar no Teatro Nacional São João, no Porto. Actuou em seguida no S. Carlos no dia 15 de abril de 1860. Interpretava o pajem da ópera “Um Baile de Máscaras”, de Verdi. D. Fernando II, no meio da plateia, apaixonou-se pela bela cantora, então com vinte e quatro anos.

Além de cantora e actriz, Hensler era escultora, pintora, arquitecta, e floricultora.
A
10 de Junho de 1869, em Benfica, desposou, morganaticamente, D. Fernando II. Entretanto, o então rei de Portugal era o segundo filho de Fernando, Luís I.
O título de condessa foi-lhe concedido dias antes da cerimónia por
Ernesto II de Saxe-Coburgo-Gota, primo do rei.
A imprensa e a nobreza portuguesa dividiram-se na apreciação do casamento entre o rei e a ex-cantora de ópera. Talvez seja por isso que ela tenha sido quase esquecida pela
História de Portugal.

O casal gostava de se refugiar em Sintra, onde D. Fernando tinha comprado o abandonado Mosteiro da Nossa Senhora da Pena. Deve-se o actual património florestal da serra de Sintra a D. Fernando, que sempre foi apaixonado pela botânica, e à cumplicidade da condessa d'Edla. As plantações do Parque de Pena intensificaram-se por volta de 1869. Elise introduziu certas espécies arbóreas do lugar à América do Norte.

Chalet na Pena, o primeiro construido em Portugal, práticamente destruido por um incêndio em 1999. Ao cimo o Palácio da Pena. Foto Arquivo Municipal de Sintra

No meio do parque, a condessa iniciou a construção do seu Chalet, que ela mesma projectou ao estilo das casas rurais norte-americanas, destruído quase por completo em 1999 por um incêndio e que habitava alternadamente com a sua quinta no Areeiro em Lisboa (ainda existentente embora em total ruína) onde passou largas temporadas com o seu amado rei.

Ao cimo, Quinta das Ameias ou Casal Vistoso, ao Areeiro em Lisboa, hoje em ruinas. Foto Arquivo Municipal de Lisboa

Mulher culta dedicou-se com o marido ao patrocínio de vários artistas, entre eles o mestre
Columbano Bordalo Pinheiro e o pianista Viana da Mota.

Em 1885, D. Fernando morre, e no seu testamento deixou à sua segunda viúva todo os seus bens, incluindo o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, ambos em Sintra. Foi D. Carlos I que, pagando uma indemnização à condessa, conseguiu recuperar os dois castelos.

Elise Hensler, depois disso, abandonou Sintra e passou a viver com sua sobrinha Alice, (só mais tarde se veio a saber ser sua filha e provavelmente de D. Fernando), em Cascais.

Faleceu em Lisboa em 1929 aos noventa e três anos e está sepultada no Cemitério dos Prazeres em jazigo próprio da autoria de Raul Lino, em forma de arca de pedra com uma Cruz reproduzida da Cruz Alta de Sintra que tanto gostava. Apresenta o simples epitáfio: «Aqui jaz Elisa Hensler, viúva de sua Majestade El-Rei D. Fernando II de Portugal, nascida em 1836 e falecida em 1929».

A condessa d’ Edla recebeu na morte o tratamento e as honras de uma figura de Estado; a rainha D. Amélia e o deposto rei D. Manuel II mandaram o visconde de Asseca como seu representante ao funeral.

Condessa d'Edla

Para a casa da Condessa d’Edla na Quinta da Bafureira onde viveu os seus últimos anos, começava o princípio do fim. A sua lenta agonia faria deste um dos mais chocantes crimes de lesa-património de que há memória em tempos recentes, mas não foi por falta de aviso que ele se consumou. Em vão: entre a inoperância das instituições e as “justificações” dadas pelo novo proprietário e promotor da urbanização dos terrenos de que ela ruíra sozinha, vários anos se passaram sem que ninguém a salvasse: reduzida a dois terços num primeiro momento, acabaria, por fim, por ficar reduzida a uma parede.

Casa da Quinta da Bafureira, última residência da Condessa d'Edla, já desaparecida

Veja o video da visita ao Chalet e parque da Condessa d'Edla aqui: http://br.youtube.com/watch?v=j3d1GqDSve8

domingo, 17 de fevereiro de 2008

TAP - Recordações

Pequena mostra da minha colecção particular de recordações da TAP

Postal - SE 202 Caravelle

Postal - Boeing 727

Postal - Boeing 707

Postal - Jumbo, Boeing 747

Postal -Boeing 747, 707 e 727

Postal Menu 1966 -Voo Luanda-Beira 1ª Classe (em cima e em baixo)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Bronca na Cultura

PORTUGAL NO SEU MELHOR !!!!!!!
José Sócrates tem, como devem saber, um assessor cultural. Trata-se de um típico intelectual luso, minimalista, de negro sempre vestido, triste e crítico de todas as artes, em tempos assessor de... Manuel Maria Carrilho. Chama-se Alexandre Melo e é grande amigo de outro célebre crítico de arte, também de negro sempre vestido, cujo nome é ANTÓNIO PINTO RIBEIRO, antigo funcionário da Culturgest e hoje em dia da Gulbenkian.
Sócrates telefonou ao seu assessor a quem pediu que lhe indicasse o nome de alguém para substituir Isabel Pires de Lima no Ministério da Cultura e o seu assessor, sem hesitar, indicou António Pinto Ribeiro. Logo a seguir, telefonou o Melo ao amigo Pinto Ribeiro a quem preveniu que logo lhe telefonaria o Sócrates a convidá-lo para Ministro da Cultura. Exultaram os dois, e o indigitado futuro ministro ficou de olho e ouvido no telefone à espera de um telefonema que não havia maneira de chegar. Entretanto, Sócrates, no seu gabinete, solicita que o ponham em contacto com o Dr. Pinto Ribeiro. A telefonista procede com prontidão visto ter à mão uma lista de todos os funcionários superiores de todos os ministérios, um dos quais é o Dr. JOSÉ ANTÓNIO PINTO RIBEIRO, advogado de formação e profissão mas exercendo as funções de Presidente da Colecção Berardo no CCB, lugar para onde fora nomeado por ter sido o advogado intermediário entre o Joe Berardo e o Primeiro-Ministro por alturas da escandalosa história da transferência da chamada Colecção Berardo para o Centro Cultural de Belém! Sócrates cumprimenta-o calorosamente e convida-o para Ministro da Cultura, julgando estar a falar com o outro Pinto Ribeiro, o "agente cultural" que lhe havia sido calorosamente recomendado pelo seu diligente assessor cultural. Muito à portuguesa o interlocutor a quem por equívoco o Engº Sócrates estava a convidar para Ministro da Cultura respondeu imediatamente que aceitava SEM FAZER QUALQUER PERGUNTA a Sua Excelência. Sócrates desliga o telefone e informa o assessor do facto de ter o Pinto Ribeiro aceite o convite. O assessor dá-lhe parte do seu regozijo e telefona logo a seguir ao amigo para o felicitar e só nesta altura se apercebem ambos de como de enganos é feita a vida política em Portugal a tal ponto são ignorantes, trapalhões e imbecis os políticos lusos.
Aquele que deveria ter sido indicado apresenta uma folha curricular que vos deixo aqui para tirarem as vossas conclusões:
António Pinto Ribeiro nasceu em Lisboa. Viveu em vários países africanos e europeus. Tem repartido a sua actividade profissional entre a investigação académica em áreas como as Teorias das Culturas e a Estética e a Programação Cultural e Artística. É professor conferencista de várias universidades internacionais. É autor de obras de história de arte, de ensaio e de um romance. Na Cotovia publicou "Por exemplo a cadeira", "Ser feliz é imoral?" e "Abrigos".
O Ministro da Cultura, o outro Pinto Ribeiro, é advogado com poucas ligações à cultura (excepto o lugar de administrador da Fundação Berardo).
É de ír ás lágrimas.
A este propósito veja o artigo seguinte e compare.

Eça e os politicos

ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política do acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?

Eça de Queiros 1867

Onda de assaltos e mortes preocupa o país sob o olhar inoperante e sonolento do ministro da tutela

Onda de assaltos no Alto Tâmaga; Onda de assaltos atinge quatro concelhos em Amarante; Onda de assaltos varre Águeda; Medo em Sintra. Estes são alguns (poucos) dos títulos que nos últimos dias têm enchido os jornais, alguns dos quais acompanhados de desfechos terríveis como a morte gratuita de quem tenta defender os seus bens e por vezes nem isso. Desde gangues juvenis a grupos organizados de imigrantes (ilegais espero), de tudo tem acontecido neste outrora pacato país, sob o olhar sonolento e inoperante do Ministro da Administração Interna que continua a entender que não há razões para medidas excepcionais já que de acordo com as estatísticas (sempre as estatísticas), a criminalidade violenta até baixou no país sendo que apenas se registou um aumento de assaltos por esticão. Ou o senhor ministro está de facto a dormir, ou não pesca boi disto (o que me parece obvio), ou está a gozar connosco (também uma forte hipótese).
As célebres estatisticas publicadas pelo Eurostat referem-se aos anos de 2004 a 2006. Pois é. Mas quantas morte e roubos houve em 2007 e nos primeiros meses de 2008? Está a gozar connosco ou acha que somos todos parvos?Não estará na hora de apertar as fronteiras? Ver quem tem meios de subsistência e investigar as moradas dadas para permanência onde se aglumeram dezenas de imigrantes em apartamentos exiguos? Se na visita turistica que efectuei à Venezuela me foi pedido extracto bancário do país de origem e documento profissional a garantir que tinha cá trabalho e quanto auferia, porque não fazemos o mesmo e teimamos em deixar entrar tudo?
Salvo obvias excepções está claro, qualquer dia é seguríssimo ir passar férias ao Brasil (que adoro), já que os ladrões estão cá todos.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O bom jornalismo nas nossas comunidades

Vale a pena caros amigos dar uma olhadela sobre o que de bom se pública nas nossas comunidades por esse mundo fora. Uma palavra que, na língua que nos une, chega seguramente na forma de conforto, a quantos o lêm longe do seu país.
Recebi recentemente a Gazeta Lusófona, publicada em Loucerne, Suiça, onde a qualidade jornalistica, a humildade e dedicação a uma comunidade inteira, são bem expressas nas palavras do seu director ao afirmar que "nestes últimos quatro anos, desde que o Jornal Gazeta se fundou (à data do texto publicado no site da publicação, pois foi fundado em 1998), existe uma procura e uma aprendizagem constante, cuja essência consiste em valorizar o que de bom se faz nesta comunidade". Ao Adelino Sá e à equipa da Gazeta uma palavra: Parabéns.

Para melhor consulta ou assinatura:

Dakar passa para a América do Sul

A última semana ajudou a clarificar um pouco mais o rumo que os responsáveis pela Amaury Sport Organization pretendem dar àquele que era considerado o maior rali do mundo, até aqui amplamente conhecido por “Dakar”. A passagem deste rali para a América do Sul. Os próprios Media sul-americanos há muito que alertam para esses indícios, inundando o Ocidente com notícias que dão conta das movimentações dos Governos locais para acolherem a mítica prova em 2009. Do Brasil ao Peru, da Argentina ao Chile.
Por cá, também João Lagos tem conseguido manter o assunto (longe de se esgotar) no topo da actualidade, com a última manchete a dar conta que o empresário português estaria até na disposição de substituir a A.S.O. na recriação do Lisboa-Dakar, caso esta optasse mesmo por abandonar o continente africano, num projecto apoiado pelo Governo português. Revistada a última semana, impõem-se, agora, um ponto de ordem na actual situação.
Dois anos sem África
Segundo as informações recolhidas e cruzadas junto de fontes bem colocadas em todo este processo, é ponto assente que o “Dakar” abandonará o continente africano nos próximos dois a três anos (como era condição da Mitsubishi), passando efectivamente a ser disputado na América Latina, conforme será revelado pela própria A.S.O. nos primeiros dias de Fevereiro. O primeiro esboço do percurso estará já a ser ultimado, tendo início em Buenos Aires, na Argentina, e final em Santiago, no Chile, percorrendo pelo meio a região da Patagónia e o deserto de Atacama, com a areia a constituir 30 por cento do percurso cronometrado.
Ainda em estudo, mas em cima da mesa das negociações, está a possibilidade deste novo rali ter uma espécie de partida simbólica em Portugal, cerca de três semanas antes (início de Dezembro), não com qualquer especial, mas antes com a realização de todas as formalidades administrativas e técnicas aos concorrentes europeus, um pouco como já sucedeu noutras cidades. Deste modo, a A.S.O. não só cumpria com o contrato previamente estabelecido com a Lagos Sports para 2009, como também garantia o transporte de todos os concorrentes europeus e respectivo material para a Argentina, numa ponte marítima que seria suportada em grande parte pelos governos argentino e chileno.
(Baseado em montejunto-rallyclube.com)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O desAcoro ortográfico versus "Hablando sério"

Com o título «Hablando sério», a notícia, que ocupa uma página inteira do caderno «Aliás», do Estadão (o mais antigo jornal de S. Paulo) do último domingo, refere-se a um encontro em Dezembro do ano passado, na embaixada do Brasil em Assunção, de escritores brasileiros e paraguaios que se uniram numa missão no mínimo inusitada: legitimar o portunhol.
«Usted, caro leitor, conocerá em primera mano o marco zero del movimiento, em la primeira reportaje escrita em portunhol nos 133 años de Estadón. Foi em dezembro. Em Asunción, por supuesto», diz a crónica assinada pelo jornalista e escritor Ronaldo Bressane.
E estamos nós empenhados em desvirtuar a lingua de Camões, aproximando-a do português do Brasil a pretexto de um facilitismo pouco claro, para que a nata da cultura brasileira se saia com esta. Para mim estou com o Mia Couto e não abdico quando afirma: «o acordo ortográfico tem tanta excepção, omissão e casos especiais que não traz qualquer mudança efectiva». Recordo apenas a estas mentes iluminadas que o português tem todas as condições para vir a ser uma das dez línguas que sobreviverão no mundo globalizado por ter 230 milhões de usuários, por isso vejam lá o que fazem.

World Press Foto: Português premiado. Veja aqui as melhores fotos de 2007

World Press Photo 2007: 1º Prémio Reportagens Desporto, Andrew Quilty/EPA. Fotografia a agência Oculi para a Australian Financial Review Magazine. Crianças assistem a uma corrida de cavalos, na Austrália

World Press Photo 2007: 1º Prémio, Tim Hetherington/EPA


World Press Photo 2007: 3º Prémio Spot Notícias, de Stephen Morrison/EPA sobre a violência no Quénia

World Press Photo 2007: 1º Prémio Vida Diária, Justin Maxon/EPA. Fotografia da Aurora Photos de uma sem-abrigo com sida e o seu filho a banharem-se no Rio Vermelho, em Hanói, Vietname

World Press Photo 2007: 1º Prémio Retratos, Platon/EPA. Fotografia para a revista Time. Presidente Putin, Rússia

World Press Photo 2007: 1º Prémio Retratos de Histórias, Vanessa Winship/EPA. Agência Vu de raparigas numa escola no campo, na Turquia

World Press Photo 2007: 1º Prémio Pessoas nas Notícias, Philippe Dudouit/EPA. Fotografia para a revista Time de guerrelheiros do PKK no Curdistão/Iraque

World Press Photo 2007: 1º Prémio Pessoas e Notícias, Yonathan Weitzman/EPA. Vestido de uma rapariga apanhado na vedação da fronteira entre Israel e Egipto, a 20 de Agosto

World Press Photo 2007: 1º Prémio Notícias, John Moore /EPA. Fotografia da Getty Images do assassinato de Benazir Butto, no Paquistão, a 27 de Dezembro

World Press Photo 2007: 1º Prémio Notícias Gerais, Balazs Gardi /EPA. Operação Rock Avalanche, no Afeganistão, em Outubro

World Press Photo 2007: 1º Prémio Histórias sobre Desporto, Erik Refner/EPA. Fotografia da Erik Refner na recta final da maratona de Copenhaga, a 18 de Maio

World Press Photo 2007: 1º Prémio Histórias de Problemas Contemporâneos, Jean Revillard/EPA. Fotografia Rezo.ch de um abrigo provisório de um imigrante, em Calais, França

World Press Photo 2007: 1º Prémio Histórias de Arte e Entretenimento, Rafal Milach/EPA. Fotografia da agência Anzenberger. Artista reformado do circo, Polónia

World Press Photo 2007: 1º Prémio Histórias da Vida Diária, Pieter ten Hoopen/EPA. Fotografia da agência Vu de Kitezh, a cidade invisível, da Rússia

World Press Photo 2007: 1º Prémio Desporto, Ivaylo Velev/EPA. Fotografia da agência Bul X Vision de Philippe Meier , Flaine, França a 15 de Março

Miguel Barreira, que obteve o 3º lugar na categoria de desporto do World Press Photo 2007, 08 de Fevereiro de 2008. (FOTO CEDIDA PELO AUTOR) MIGUEL BARREIRA/RECORD/LUSA

World Press Photo 2007: 1º Prémio Arte e Entretenimento, Ariana Lindquist/EPA. Rapariga com fato de desenho de animação, em Xangai

World Press Photo 2007: 1º Prémio Assuntos Contemporâneos, Brent Stirton/EPA. Fotografia a agência Getty Images para a Newsweek relatando evacuação de gorilas mortos no Parque Nacional de Viruga, no Congo

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

As melhores fotos de 2007. Selecção Reuters

Fabulosas. Veja e comente.

Um Rubens na sala de jantar do Ministro

Na foto: "A união da terra e da água" de Rubens

É do conhecimento de escassas pessoas que o Ministério da Administração Interna, no Terreiro do Paço, em Lisboa (sala de refeições do ministro), tem nas suas paredes um valioso e raro quadro de Rubens. Seria interessante que o Ministério da Cultura passasse a tutelar este bem público e o colocasse em local onde todos o pudessem disfrutar, como fosse o caso do Museu Nacional de Arte Antiga. A referida obra (de que não disponho de imagem e relata uma cena bíblica), ostenta na sua parte inferior a seguinte inscrição: Peter Paul Rubens, oferta de S. M. el rei D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Cartoon da semana

A propósito dos projectos assinados pelo engº José Sócrates.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

"Infames, infames"

Neste dia em que passam cem anos sobre a trágica morte d'el-rei D. Carlos e do principe-real D. Luis Filipe, transcrevo aqui um excerto do regicídio, visto na primeira pessoa, por Sua Magestade el-rei D. Manuel II.
Marcado fica também este dia, pela vergonhosa atitude em que a maioria na Assembleia da República PS, PCP, BE e PEV, recusaram prestar homenagem aquele que foi seu Chefe de Estado, com a víl justificação que, aprovar o documento, apresentado pelo deputado do PPM e aprovado pelo PSD e CDS-PP, seria "dar um voto contra a República", afirmou o presidente do Grupo Parlamentar do PS, Alberto Martins.
Sobra-me a consolação que os portugueses vos viram e fica-me a apetecer repetir-vos as palavras que Dª Amélia proferiu contra os regicídas durante o atentado que lhe roubou a vida do seu rei e marido, bem como do seu filho: "infames, infames".
"Há já uns poucos de dias que tinha a ideia de escrever para mim estas notas intimas, desde o dia 1 de Fevereiro de 1908, dia do horroroso atentado no qual perdi barbaramente assassinados o meu querido Pae e o meu querido Irmão...No dia 1 de Fevereiro regressavam Suas Magestades El-Rei D. Carlos I a Rainha a senhora D. Amélia e Sua Alteza o Principe Real de Villa Viçosa onde ainda tinha ficado...
Meu Pae não tinha nenhuma vontade de voltar para Lisboa. Bem lembro que se estava para voltar para Lisboa 15 dias antes e que meu Pae quis ficar em Villa Viçosa: Minha Mãe pelo contrário queria forçosamente vir. Recordo-me perfeitamente desta frase que me disse na vespera ou no próprio dia que regressei a Lisboa depois de eu ter estado dois dias em Villa Viçosa. "Só se eu quebrar uma perna é que não volto para Lisboa no dia 1 de Fevereiro. Melhor teria sido que não tivessem voltado porque não tinha eu perdido dois entes tão queridos e não me achava hoje Rei! Enfim, seja feita a Vossa vontade Meu Deus! (...) houve uma pessoa minha amiga (que se não me engano foi o meu professor Abel Fontoura da Costa) que disse a um dos Ministros que eu gostava de saber um pouco o que se passava, porque isto estava num tal estado de excitação. O João Franco escreveu-me então uma carta que eu tenho a maior pena de ter rasgado, porque nessa carta dizia-me que tudo estava sossegado e que não havia nada a recear! Que cegueira!
Mas passemos agora ao fatal dia 1 de Fevereiro de 1908 sábado. De manhã tinha eu tido o Marquês Leitão e o King. Almocei tranquilamente com o Visconde d'Asseca e o Kerausch. Depois do almoço estive a tocar piano, muito contente porque naquele dia dava-se pela primeira vez "Tristão e Ysolda" de Wagner em S. Carlos...Um pouco depois das 4 horas saí do Paço das Necessidades num "landau" com o Visconde d'Asseca em direcção ao Terreiro do Paço para esperarmos Suas Magestades e Alteza. Fomos pela Pampulha, Janelas Verdes, Aterro e Rua do Arsenal. Chegámos ao Terreiro do Paço. Na estação estava muita gente da corte e mesmo sem ser. Conversei primeiro com o Ministro da Guerra Vasconcellos Porto, talvez o Ministro de quem eu mais gostava no Ministério do João Franco. Disse-me que tudo estava bem.
Esperamos muito tempo; finalmente chegou o barco em que vinham os meus Paes e o meu Irmão. Abracei-os e viemos seguindo até a porta onde entramos para a carruagem os quatro. No fundo a minha adorada Mãe dando a esquerda ao meu pobre Pae. O meu chorado Irmão deante do meu Pae e eu deante da minha mãe. Sobretudo o que agora vou escrever é que me custa mais: ao pensar no momento horroroso que passei confundem-se-me as ideias. Que tarde e que noite mais atroz! Ninguem n'este mundo pode calcular, não, sonhar o que foi. Creio que só a minha pobre e adorada Mãe e Eu podemos saber bem o que isto é! vou agora contar o que se passou n'aquella historica Praça.
Sahimos da estação bastante devagar. Minha mãe vinha-me a contar como se tinha passado o descarrilamento na Casa-Branca quando se ouvio o primeiro tiro no Terreiro do Paço, mas que eu não ouvi: era sem duvida um signal: signal para começar aquella monstrosidade infame, porque pode-se dizer e digo que foi o signal para começar a batida. Foi a mesma coisa do que se faz n'uma batida às feras: sabe-se que tem de passar por caminho certo: quando entra n'esse caminho dá-se o signal e começa o fogo! Infames! Eu estava olhando para o lado da estatua de D. José e vi um homem de barba preta , com um grande "gabão". Vi esse homem abrir a capa e tirar uma carabina. Eu estava tão longe de pensar n'um horror d'estes que me disse para mim mesmo, sabendo o estado exaltação em que isto tudo estava "que má brincadeira". O homem sahiu do passeio e veio se pôr atraz da carruagem e começou a fazer fogo...Quando vi o tal homem das barbas que tinha uma cara de meter medo, apontar sobre a carruagem percebi bem, infelizmente o que era. Meu Deus que horror. O que então se passou só Deus minha mãe e eu sabemos(...)porque mesmo o meu querido e chorado Irmão presenceou poucos segundos porque instantes depois também era varado pelas balas. Que saudades meu Deus! Dai-me a força Senhor para levar esta Cruz, bem pesada, ao Calvário! Só vós, Meu Deus sabeis o que tenho sofrido! Logo depois do Buíça ter feito fogo (que eu não sei se acertou) começou uma perfeita fuzilada, como numa batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto nenhuma providência! Isso é que me custa mais a perdoar ao João Franco (...)
Imediatamente depois do Buíça começar a fazer fogo saiu de debaixo da Arcada do Ministério um outro homem que desfechou uns poucos de tiros à queima-roupa sobre o meu Pai; uma das balas entrou pelas costas e outra pela nuca, que O matou instantaneamente. Que infames! para completarem a sua atroz malvadez e sua medonha covardia fizeram fogo pelas costas. Depois disto não me lembro quase do resto: foi tão rápido! Lembra-me perfeitamente de ver a minha adorada e heróica Mãe de pé na carruagem com um ramo de flores na mão gritando àqueles malvados animais, porque aqueles não são gente «infames, infames».
A confusão era enorme. Lembra-me também e isso nunca poderei esquecer, quando na esquina do Terreiro do Paço para a Rua do Arsenal, vi o meu Irmão em pé dentro da carruagem com uma pistola na mão. Só digo d'Ele o que o Cónego Aires Pacheco disse nas exéquias nos Jerónimos: «Morreu como um herói ao lado do seu Rei»! Não há para mim frase mais bela e que exprima melhor todo o sentimento que possa ter...Quando de repente já na Rua do Arsenal olhei para o meu queridíssimo Irmão vi-O caído para o lado direito com uma ferida enorme na face esquerda de onde o sangue jorrava como de uma fonte! Tirei um lenço da algibeira para ver se lhe estancava o sangue: mas que podia eu fazer? O lenço ficou logo como uma esponja.
No meio daquela enorme confusão estava-se em dúvida para onde devia ir a carruagem: pensou-se no hospital da Estrela, mas achou-se melhor o Arsenal. Eu também, já na Rua do Arsenal fui ferido num braço por uma bala. Faz o efeito de uma pancada e um pouco uma chicotada: foi na parte superior do braço direito...Deus quis poupar-nos! Dou Graças a Deus de me ter deixado a minha Mãe que eu tanto adoro. Sempre foi a pessoa que eu mais gostei neste mundo e no meio destes horrores todos dou e darei sempre graças a Deus de me A ter conservado!
Quando a Minha adorada Mãe saiu da carruagem foi direita ao João Franco que ali estava e disse-lhe ou antes gritou-lhe com uma voz que fazia medo «Mataram El-Rei: Mataram o meu Filho». A minha pobre Mãe parecia doida. E na verdade não era para menos: Eu também não sei como não endoideci. O que então se passou naquelas horas no Arsenal ninguém pode sonhar! A primeira coisa foi que perdi completamente a noção do tempo. Agarrei a minha pobre e tão querida Mãe por um braço e não larguei e disse à Condessa de Figueiró para não a deixar.
De meu Pai e mesmo meu Irmão não tinha grandes esperanças que pudessem escapar. As feridas eram tão horrorosas que me parecia impossível que se salvassem. (...) já lá estava o Ministério todo menos o Ministro da Fazenda Martins de Carvalho...Preveniu-se para o Paço da Ajuda a minha pobre Avó para vir para o Arsenal. Eu não estava quando Ela chegou. Estavam-me a tratar o braço na sala do Inspector do Arsenal...A minha pobre e adorada Mãe andava comigo pelo Arsenal de um lado para o outro com diferentes pessoas: Conde de Sabugosa, Condes de Figueiró, Condes de Galveias e outros falando de sempre num estado de excitação indescritível mas fácil de compreender. De repente caiu no chão! Só Deus e eu sabemos o susto que eu tive! Depois do que tinha acontecido veio aquela reacção e eu nem quero dizer o que primeiro me passou pela cabeça...Minha Mãe levantou-se quase envergonhada de ter caído. É um verdadeiro herói. Quem dera a muitos homens terem a décima parte da coragem que a minha Mãe tem.
Pouco tempo depois de termos chegado ao Arsenal veio ainda o major Waddington dizendo que os Queridos Entes ainda estavam vivos; mas infelizmente pouco tempo depois voltou chorando muito. Perguntei-lhe «Então?» Não me respondeu. Disse-lhe que tinha força para ouvir tudo. respondeu-me então que já ambos tinham falecido! Dai-lhes Senhor o Eterno descanso e brilhe sobre Eles a Vossa Luz Eterna Ámen!
Pouco depois vi passar João Franco com o Aires de Ornelas (Ministro da Marinha) e talvez (disso não me lembro ao certo) com o Vasconcelos Porto, Ministro da Guerra, dirigindo-se para a Sala da Balança para telefonarem que se tomassem todas as previdências necessárias. São isto cenas, que viva eu cem anos, ficarão gravadas no meu coração. Agora já era noite o que ainda tornava tudo mais horroroso e sinistro: estava já então muita gente no Arsenal, e principiou-se a pensar no regresso para o Paço das Necessidades. No presente momento em que estou escrevendo estas linhas estou repassando com horror, tudo no meu pensamento! Entrámos então para o landau fechado, a minha Avó, minha Mãe e o Conde de Sabugosa e eu. Saímos do Arsenal pelo portão que deita para o Cais do Sodré onde estava um esquadrão da Guarda Municipal comandado pelo Tenente Paul: Na almofada ia o Coronel Alfredo de Albuquerque: à saída entregaram ao Conde de Sabugosa um revólver; minha Avó também queria um.
Viemos então a toda brida para o Paço das Necessidades. À entrada esperavam-nos a Duquesa de Palmela, Marquesa do Faial, Condessa de Sabugosa, Dr. Th. de Mello Breyner, Conde de Tattenbach, Ministro da Alemanha e a Condessa, e muitos criados da casa. Foi uma cena horrorosa! Todos choravam aflitivamente. Subimos muito vagarosamente a escada no meio dos prantos e choros de todos os presentes. Acompanhei a minha pobre e adorada Mãe até ao seu quarto e deixei a minha pobre Avó na sala.»