Salvem O Museu dos Coches Petição

Salvem O Museu dos Coches Petição
Petição: Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Museu da Música e Museu da Viagem - Carta aberta à Srª Ministra da Cultura

Exma. Senhora Ministra da Cultura

Dra. Gabriela Canavilhas


Tendo vindo recentemente a público a intenção de V.Exa. em dar início aos procedimentos conducentes ao desenvolvimento de um projecto museológico de raiz, denominado “Museu da Viagem”, e, de igual modo, ao desejo em reinstalar o Museu da Música em local que não numa estação de metropolitano, vimos pelo presente regozijar-nos com ambos os desideratos, e apresentar duas propostas relativamente aos mesmos:



Museu da Música


Desde há anos que temos vindo a alertar quem de direito para a necessidade de haver um projecto de reabilitação para o antigo, emparedado e esquecido Teatro Tália, sito junto ao Jardim Zoológico (http://cidadanialx.tripod.com/talia.html).


O Teatro Tália é Imóvel de Interesse Público desde 1974, pertence ao Estado (Presidência do Conselho de Ministros) e está afecto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) desde há mais de uma década.


Ao que sabemos, o único “projecto” apresentado oportunamente pelo MCTES ao MC, o de instalação naquele espaço do arquivo morto daquele ministério, foi liminarmente recusado, e bem. Como tal, qualquer projecto que se pretenda desenvolver para o Teatro Tália terá que ser compatível com o seu valor histórico e simbólico, e com a sua envolvente.


Julgamos que a instalação do Museu da Música no Teatro Tália (ainda que a solução ideal fosse, obviamente, a desocupação do Palácio do Conde de Farrobo pelo MCTES e a instalação do museu nesse palácio, complementada pela reabilitação do Tália enquanto anfiteatro) será uma excelente solução para a colecção do actual museu, para o antigo teatro e para a cidade, e que além de não implicar verbas tão avultadas quanto a construção de raiz de um novo edifício, terá a vantagem de recuperar um belo e valioso património.


Por isso, apelamos a V.Exa. para que equacione a possibilidade de negociar a cedência daquele conjunto com o MCTES para que ali possa ser instalado o acervo museológico hoje exposto na Estação de Metro do Alto dos Moinhos, e demais instrumentos ainda existentes em armazém, por via de projecto adequado de recuperação do antigo Teatro Tália.


Museu da Viagem


A ideia da criação de um Museu da Viagem dedicado não só às Descobertas como à diáspora lusitana, tendo por base uma viagem “virtual” à semelhança do que era exposto no Pavilhão de Portugal aquando da Expo’98, parece-nos boa e oportuna, uma vez que se trata de uma temática que, sendo transversal a muitas áreas da nossa museologia, é quase sempre entendida como subliminar, quando não incapaz de per si ser objecto de um projecto de museu nacional.


Assim, como contributo para o enriquecimento do debate sobre o futuro do edifício da Cordoaria Nacional (e do Museu Nacional de Arqueologia), e uma vez que o não desvirtuamento físico da Cordoaria Nacional enquanto Monumento Nacional tem sido também uma das nossas causas desde há anos, somos a propor que o “Museu da Viagem” seja desenvolvido na Cordoaria e não em edifício a construir de raiz. Isto porque:


- Apesar de quase devoluta e subaproveitada enquanto espaço museológico de índole industrial, a Cordoaria merece ser respeitada e objecto de um projecto de arquitectura que lhe devolva dignidade e possibilite a sua visita de forma cabal e integrada;

- Um programa arquitectónico de um "museu da viagem" será menos intrusivo do que o de um museu de arqueologia;

- O facto da Cordoaria estar sobre leito de cheia (Rio Seco) será menos gravoso no caso de um museu assente num programa virtual, do que num museu com tesouros arqueológicos físicos de valor incalculável;

- Finalmente, porque a existir um edifício cuja história se confunde com as Descobertas e com as viagens ele é a Cordoaria Nacional, pelo simples facto de que era ali que se fabricavam os cordames para os barcos.


Na expectativa de que estas propostas sejam bem aceites por V.Exa., subscrevemo-nos com elevada estima e consideração.



Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Luís Marques da Silva, Jorge Santos Silva, João Chambers, José Arnaud, Diogo Moura, Cátia Mourão, Luís Serpa, Pedro Formozinho Sanchez, Virgílio Marques, António Branco Almeida, Jorge Pinto, João Leonardo, Beatriz Empis, Carlos Moura, Maria Helena Barreiros, Luís Rêgo e Carlos Matos

domingo, 25 de abril de 2010

Memórias do Portugal Respeitado

Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.Estoril, 18 de Abril de 2010- Luis Soares de Oliveira
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Terça-feira, 20 de Abril de 2010-MEMÓRIAS DO PORTUGAL RESPEITADO-Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.

Estoril, 18 de Abril de 2010- Luis Soares de Oliveira..

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Não há limites para a trapalhada

Segundo o governo português o grão-ducado do Luxemburgo passou a ser uma república. Não há de facto limites para a trapalhada