Por: João J. Brandão Ferreira*
Frei Nuno recebeu o embaixador de Castela, em sua cela, amortalhado no Hàbito.
-“Nunca mais despireis essa mortalha?” perguntou-lhe o castelhano.
-“Em tal caso enquanto não estiver sepultado, servirei ao mesmo tempo a religião que professo e a terra que me deu o ser”.
Por baixo do escapulário tinha o arnez vestido. O castelhano curvando a cabeça, saiu.
Finalmente, ao fim de uma espera de séculos, a canonização do Beato Nuno de Santa Maria está marcada: será no dia 26 de Abril e terá como companheiros quatro cidadãos da península Itálica.
Este reconhecimento da Igreja deve ser considerado com grande júbilo pela nação dos portugueses. As comemorações devem ter realce idêntico. Não vai ser fácil, todavia, que tal venha a acontecer, mas já lá iremos.
De facto a figura e a acção do Condestável é absolutamente singular na História de Portugal e, a ele, mais do que a qualquer outro, devem os portugueses o facto de continuarem a ser livres e independentes.
Não vamos percorrer a vida do grande vencedor de Aljubarrota – facto luminoso das nossas glórias militares – nem os seus actos do dia a dia, que são referencias incontornáveis de moralidade pública, virtudes humanas e devoção cristã, que balizaram a vida do herói e santo, mas tão só afirmar dois notabilíssimos factos: ser Nuno Alvares o nosso único chefe militar que nunca perdeu uma batalha ou um simples combate (e pelejou muito!); e sendo já numa altura madura do seu peregrinar pela terra, um dos homens mais ricos do Reino – senão o mais rico – se ter despojado de tudo, distribuindo os seus bens pelos familiares, amigos, companheiros de armas e ordens religiosas. Queria apenas passar a viver de esmolas e foi preciso uma ordem real para impedir que tal viesse a suceder.
Não existe outro exemplo em toda a gesta nacional, desde que Afonso Henriques individualizou o Condado Portucalense, que se lhe possa igualar. Como, possivelmente, não haverá no mundo inteiro.
É, pois, diante desta figura gigantesca de carácter, competência, humildade e Fé, que os portugueses se devem curvar e em cujo exemplo deveriam meditar.
Ora os portugueses deste início do século XXI desconhecem e ignoram, na sua maioria – com os poderes públicos à cabeça – o ganhador dos Atoleiros, de Trancoso e Valverde, o grande comandante que nunca vacilou nos transes mais dolorosos e incertos.
É este, então, o momento ideal para arrepiarmos caminho e dar graças à Providencia Divina pelo facto do Santo Condestável ser um dos nossos e lembrarmos aos nossos filhos e netos que nunca o deverão esquecer. Porém, não se pode amar o que se desconhece.
Numa época em que os nossos brios patrióticos tão necessitados estão de alimento que os retirem da soturna decadência em que sucessivas opções de estouvado e ignaro mau senso, os colocaram, surge esta luminosa oportunidade de retemperar a alma dos bons portugueses. Será um crime de lesa Pátria, desperdiçá-la!.
Deste modo julgamos que se deve actuar rapidamente em três âmbitos: o religioso, o militar e o cívico.
É por demais evidente que a cerimónia de canonização deve ser seguida pelo país inteiro – não há aqui azo a divisionismos – e não se deve esgotar na cerimónia em Roma a qual deve ter a presença de muitos portugueses e de bandeiras de Portugal. É preciso mobilizar o maior número de pessoas a deslocarem-se ao Vaticano.
A imagem de Nuno de Santa Maria (o nosso décimo primeiro santo), deve ser transportada em avião da Força Aérea ou da TAP, para Lisboa e ser escoltada por aviões de combate assim que entrar no espaço aéreo nacional – as asas dos aviões da FA ostentam a cruz de Cristo, ela não está lá por acaso.
No aeroporto a imagem deverá receber honras militares e ser levada para o Convento do Carmo – a sua última morada – e ficar à guarda de forças da GNR.O percurso deverá ter alas de militares.
Em data próxima realizar-se-á um “Te Deum”nos Jerónimos em honra do novo santo, com a presença de todas as irmandades e institutos religiosos. No dia seguinte a imagem deverá seguir para S.Margarida, passando pela Escola Prática de Infantaria –arma de que D.Nuno é o patrono . Em S.Margarida, na unidade herdeira das tradições da 3ª Divisão de Infantaria – a Divisão N’Àlvares – será feita uma velada de armas à maneira medieval, para seguidamente se prestar as honras militares na Batalha antecedidas pela passagem nos campos de S.Jorge. Em todos os itinerários o povo e todas as autoridades devem sair às ruas para aclamar tão distinto e valoroso antepassado.
Em frente à sua estátua equestre na vila da Batalha serão prestadas honras militares pelo maior contingente de tropas apeadas que se possa reunir a que se seguirá missa solene militar, com a presença dos estandartes de todas as unidades militares, no mosteiro de Santa Maria da Vitória. O corpo diplomático deve ser convidado a assistir.
As cerimónias deslocar-se-ão, então, para o concelho da terra natal de D.Nuno, Cernache do Bonjardim, cujas forças vivas já se preparam para a justa homenagem.
Em simultâneo deverão realizar-se palestras, homilias, conferencias, colóquios, etc., em todas as paróquias, unidades militares (incluindo as destacadas),escolas e instituições de cultura e patrióticas um pouco por todo o país. Tais comemorações deverão inspirar o aparecimento de obras de arte, literatura, medalha, emissão filatélica, etc., alusivas ao evento.
É urgente “reaporteguesar” Portugal.
Para tudo se levar a bom termo, deverá ser constituído um grupo director e coordenador que não pode dispensar o alto patrocínio do Presidente da República (e deverá até ser liderado pela presidência). Aos eventos devem ser agregadas o maior número de instituições representativas da sociedade.
Infelizmente haverá que contar com a acção de forças antinacionais que tudo farão para minorizar tão importante acontecimento. Há que as enfrentar com serenidade, determinação e firmeza. Como D. Nuno nos ensinou.
Que o grande Fronteiro Mor do Além-Tejo, Condestável de Portugal, alma pura e bela, agora Santo Nuno, continue a interceder pela terra de Santa Maria.
Acreditem que bem precisamos.
*Tenente Coronel Piloto Aviador
Comd.Linha Aèrea
Este texto foi-nos enviado pelo leitor José Honorato Ferreira a quem desde já se agradece e cujo comentário ao artigo acima publicado, pela oportunidade do mesmo, segue em anexo.
“Não conheço pessoalmente o TCOR PILAV Brandão Ferreira. Tenho lido muitas das suas intervenções e reconheço-me em muitas das suas afirmações.
A figura de Nuno Álvares Pereira pouco ou nada dirá à grande maioria dos altos dirigentes políticos nacionais, pois o politicamente correcto é defender a UE e, mesmo, a integração num espaço ibérico, o que quer que tal conceito queira significar.
Como a educação e a formação das novas gerações tem sido descurada nas últimas décadas, raros serão os que se perturbam com a ideia da defesa de uma chamada união ibérica. Pobre D. Nuno que tem de suportar estes seus concidadãos, seis séculos após os seus actos heróicos em defesa da Pátria.
Portanto, tenho para mim que não passará pela cabeça de nenhum órgão de soberania nacional dar o devido relevo à canonização do Condestável, o que seria normal num País que não se tivesse “esquecido” da sua História e da sua identidade nacional.
Aliás, será que os políticos que nos governam têm ideia do que significam esses conceitos?
Aconselho a leitura da entrevista do Prof. Vitorino Magalhães Godinho no DN de 27 de Fevereiro corrente. Do alto dos seus 90 anos e do passado de que se orgulha (desconhecido da maioria, certamente...) põe o dedo na ferida sobre a pobreza de espírito e ignorância da classe política.
Portanto, meu caro Amigo, a 26 de Abril próximo, para além de meia dúzia de salamaleques protocolares que as relações diplomáticas formais entre a República Portuguesa e a Santa Sé tornarão inevitáveis, tudo será feito para, de forma "politicamente correcta", manter a “sacrossanta e jacobina” separação da Igreja do Estado, não vá qualquer outra atitude ferir a sensibilidade de prestimosas instituições tidas como progressistas e defensoras de liberdades e garantias, bem conhecidas de muitos de nós.
Se tudo correr de outra maneira... Te Deum laudamus... Portugal ainda não terá adormecido!!!
Que nunca a voz doa ao TCOR PILAV Brandão Ferreira e aos militares que têm consciência do Juramento de Bandeira que convictamente proferiram.
Não temos de viver com fantasmas do passado, é certo. Temos, contudo, de manter a noção de defesa e de dignidade de uma Pátria e de uma História de quase 900 anos, de que não temos de nos envergonhar.
José Honorato Ferreira”