Chafariz do séc XVIII ao lado do qual irá surgir o edificio.
O texto que se segue é retirado da revista 24 Horas de 8-03-2008 por Paula Freitas Ferreiro
"Salvem o Largo do Rato" é o nome de uma petição que já circula na Internet para impedir a construção de um edifício da autoria dos arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus.
O projecto foi aprovado em 2005 pela vereadora Eduarda Napoleão, sob a égide de Pedro Santana Lopes. Mas cabe ao actual vereador da divisão de Urbanismo, Planeamento e Reabilitação da Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Salgado, dar o "sim" final para o arranque das obras. Algo que o responsável não vai assumir sozinho...
Já são muitos os que se estão a juntar para impedir que surja um "monstro" no Largo do Rato. Para além da petição online (presente no blogue Lesma Morta de Jorge Santos Silva), o blogue Cidadania LX também já veio em defesa do local. A acusação que paira sobre o projecto é forte: "Prepara-se para descaracterizar definitivamente esta zona lisboeta e (...) obrigará à demolição de alguns imóveis, nomeadamente a centenária Associação Escolar de São Mamede. Já a sinagoga de Lisboa ficará quase tapada. O chafariz do Rato e o Palácio de Palmela, actual (cont.)
(continuação) Procuradoria-Geral da República, que se localiza mesmo ao lado da obra, perderão totalmente a sua leitura visual", pode ler-se no texto da petição. O repto lançado é claro: "Quanto à edilidade exige-se que interrompa já este despropósito, sob o risco de ficar na história da cidade como responsáveis por tal vergonha", diz o autor do apelo.
Apesar do projecto não ser de agora, a polémica estalou quando o semanário "Expresso" publicou no final do ano passado fotografias de como ficará a zona depois do edifício (de habitação e comércio) estar construído.
(...) "Este projecto é uma herança. O vereador nunca teria decidido pela aprovação do projecto sem antes o ter levado a reunião de Câmara", afirmou fonte próxima de Manuel Salgado. No entanto o vereador já tinha dado a sua opinião ao "Expresso" no tal artigo: "[o edifício] é uma provocação, tal como a Casa da Música, no Porto. Terá detractores e entusiastas, pois não é um edifício anódino. Destaca-se de toda a envolvente. Como arquitecto agrada-me.
Quem não está nada entusiasmado com a possibilidade do edifício vir a ocupar aquela zona de Lisboa é o vereador do PCP, Ruben de Carvalho. "Sou inteiramente contra por questões estéticas e urbanísticas, (...) um espigão ali metido não faz sentido nenhum (...). Espero que não passe em reunião de Câmara (...).
José Sá Fernandes é outro dos que não vêm com bons olhos o edifício. "O meu voto contra está garantido. Acho aquilo muito mau. Não se integra bem na zona, não tem em conta espaços como a Sinagoga e mesmo o Largo do Rato. Tem uma volumetria exagerada para aquele sítio. Espero que ainda se vá a tempo de voltar atrás. O que eu gostava mesmo é que os próprios promotores do projecto, voltassem atrás", afirma o vereador do Bloco de Esquerda.
Carmona Rodrigues (...) recorda-se do projecto. "Lembro-me que é algo diferente, com uma arquitectura um pouco moderna, que se impõe ali de uma forma dissonante tendo em conta o edificado à volta. Mas lembro-me também que havia mais questões a discutir como a questão da Sinagoga ou a proximidade do Metro... Vou aguardar pela proposta ( e então, na altura, irei pronunciar-me".
Fernando Negrão também está à espera de saber mais pormenores. " A única informação que tenho é a das fotografias que o "Expresso" publicou e o que posso dizer é que o impacto visual não é agradável", diz o vereador do PSD (...).
Helena Roseta não se quis pronunciar pois segundo a sua acessora, ainda não temos sequer a informação que o projecto vai a reunião de Câmara".Fotomontagem, Expresso. Composto por 7 pisos acima do solo e 5 de estacionamento, com fachadas entre os 19 e os 22 metros, 10.000 metros quadrados em gaveto.
Fotomontagem, Expresso.

Salvem o Largo do Rato
Por Jorge Santos Silva
Da autoria de Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, este enorme edifício entre o Largo do Rato, Rua Alexandre Herculano e Rua do Salitre, teve agora luz verde dada pela autarquia lisboeta aos projectos de especialidade. Composto por 7 pisos acima do solo e 5 de estacionamento, com fachadas entre os 19 e os 22 metros, 10.000 metros quadrados em gaveto com apartamentos T0 e T2, trata-se de uma construção que pela volumetria rebenta totalmente com a escala do Largo. O projecto a construir prepara-se para descaracterizar definitivamente esta zona lisboeta e onde para servir tais propósitos o novo prédio obrigará à demolição de alguns imóveis, nomeadamente a centenária Associação Escolar de São Mamede. Já a Sinagoga de Lisboa ficará quase tapada. Esther Mucznik, vice-presidente da comunidade judaica, evoca o cenário um dia discutido quando Jorge Sampaio presidia à Câmara: rasgar um jardim em direcção ao Rato, de modo a abrir a Sinagoga à cidade. Um sonho que passou “Agora estamos encurralados. Mais ficaremos”...
O Chafariz do Rato, da autoria de Carlos Mardel, Sec. XVIII e o palácio Palmela, actual Procuradoria Geral da República, que se localizam mesmo ao lado da obra, perderão totalmente a sua leitura visual.
A construção do edifício obrigará à demolição de imóveis como a centenária Associação Escolar de São Mamede (em cima) e deixará a Sinagoga de Lisboa, 1902-1904, da autoria do Prémio Valmor, o arq. Ventura Terra, totalmente emparedada.
É no passeio em 1º plano que se erguerá a construção em causa.
Em 2º plano o Chafariz do Rato, de autoria atribuída a Carlos Mardel, com a balaustrada ladeada pelos muros que sustentam o jardim da antiga Quinta dos Duques de Palmela, agora Procuradoria Geral da República que com a contrução projectada perdará totalmente a sua leitura.