O Museu Nacional dos Coches foi, como todos sabem, obra da Rainha Dona Amélia, a última rainha de Portugal, mulher, nascida francesa e morrendo convictamente portuguesa.
Assim, pergunto que direito tem o governo português de insultar a sua memória ao querer reerguer um novo museu dos coches a inaugurar no centenário da Implantação da Republica, acto esse que foi o culminar de uma série de acontecimentos fatídicos que a vitimaram, como o assassinato do seu marido e Rei, de seu filho e Herdeiro e que a exilou. Naturalmente não se põe aqui uma questão de Monarquia/ República. Apenas que se respeitem as memórias.
Vejamos de quem estamos a falar:
A 1 de Fevereiro de 1908 a família real regressada a Lisboa, sofre um atentado onde o Rei D. Carlos e o Príncipe Herdeiro D. Luis Filipe são mortos.
Dois anos depois, é implantada a república e é obrigada a partir para o exílio a 5 de Outubro de 1910 juntamente com a sogra, a Rainha Maria Pia e o seu filho mais novo, o já Rei D. Manuel II.
Os Bragança não fogem do reino. Embarcam inicialmente para o Porto. “Não chorámos, não pedimos, não tivemos medo. Ao contrario. Se houve um comandante com medo de morrer, não houve duas rainhas com medo de ficar”, afirmaria D. Amélia em 1938.
Parte posteriormente para Londre e após o casamento de seu filho radica-se em Versalhes.
Nestes anos de exílio casou o filho e viu-o morrer bem como toda a sua família directa, passando então a simbolizar toda uma dinastia, da qual era a única representante viva.
Durante a II Guerra Mundial, o governo de Salazar, ofereceu-lhe asilo político, que ela recusou, e declarou o castelo dos duques de Orleães, território nacional, tornando-o território neutro, intocável, na França ocupada.
Perguntaram-lhe um dia se recordava Portugal ao que respondeu: “Recordar?! Recordar é ter esquecido uma vez. Eu nunca esqueci”
A Rainha morreu aos 86 anos, profundamente atingida na sua felicidade de mulher, de esposa e de mãe, mas nunca na de Rainha.
Já no seu leito de morte afirmou” quero bem a todos os portugueses, mesmo aqueles que me fizeram mal (…) sofro tanto. Deus está comigo. Levem-me para Portugal” e faleceu.
É a sua memória que a inauguração do novo Museu dois Coches a 5 de Outubro de 2010 insulta.
Jorge Santos Silva
2 comentários:
Não tendo nada vocação monárquica, mas vendo as coisas por um prisma lógico, é pelo menos algo incongruente a escolha de tal data, devo admitir...
Abraço.
Monárquico até morrer.
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