Salvem O Museu dos Coches Petição

Salvem O Museu dos Coches Petição
Petição: Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Precisa-se de matéria prima para construir um País

*Eduardo Prado Coelho - in Público*

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, lips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país:- Onde a falta de pontualidade é um hábito;
- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.
- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... *MEDITE*!

*EDUARDO PRADO COELHO*

Sobre este texto, fui contactado pela filha de Eduardo Prado Coelho que nos procurou a propósito da petição sobre o Museu dos Coches e onde teve ocasião de verificar a existência deste artigo atribuído a seu pai e cuja autenticidade nos refere ser falsa.Não obstante nele eu ter tido ocasião de referir que o mesmo foi retirado de um comentário a um texto abaixo e publicado por um anónimo, logo não ser da minha responsabilidade, esclareci num comentário a este texto que o mesmo pertence como original a Ubaldo Ribeiro. Porém, como o texto por mim publicado tem a assinatura de Eduardo Prado Coelho, tal como aparecia no texto por mim copiado, aqui fica a retratação e a reposição da verdade.Para que não subsistam dúvidas segue nota ao Público, de Eduardo Prado Coelho que a 25 Outubro de 2006 teve ocasião de desmentir a autoria do texto.

"Já tinha ouvido falar no assunto, mas não me interessei demasiado. Tive até felicitações por aquele texto de que não era autor. Não me ralei. Não andei à procura em blogues, porque nunca fui dado a tal prática (por motivos muito polémicos que já expus diversas vezes, com grande escândalo das almas mais piedosas). Não tenho nada contra os blogues, mas também nada a favor; é como os vinhos (não bebo, sou incapaz de estender a mão para um copo de álcool que passe à minha frente) ou as corridas de automóveis. Para mim, estas coisas passam-se noutro planeta. Mas o que me impressionou desta vez é que a minha massagista, Natália, uma moldava que é também uma excelente pessoa, veio dizer que tinha havido uma notícia desagradável a meu respeito no Correio da Manhã. E trouxe o venerável periódico. De facto, os títulos da notícia não eram exaltantes: “Professor universitário acusado de plágio” e como frase de entrada: “É acusado de ter copiado e ‘adaptado’ o texto de um escritor brasileiro.” Quanto ao texto propriamente dito, está correcto (é da Márcia Bajouco, que me havia telefonado). E põe os pontos nos iis. Mas tarde de mais. Já há toda uma página embandeirada em títulos sobre o assunto.Parece que João Ubaldo Ribeiro teria escrito um texto sobre a situação brasileira intitulado “Precisa-se de matéria-prima para construir um país”, que começaria deste modo: “A crença geral era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lulanão serve”, e que eu teria adaptado – segundo um blogue que seria “notas.blogs.sapo.pt” – nestes termos: “A crença geral era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão eGuterres. Agora dizemos que Sócrates não serve.” Ora basta perceber o que repetidamente tenho escrito para se poder afirmar que eu acho que Sócrates serve, e muitíssimo bem. Parece que o vocalista dos UHF, António Manuel Ribeiro, até me citou, porque concordava com o que me era atribuído como a minha forma de pensar. Diz ter recebido uma mensagem de correio electrónico que continha o texto assinado por E.P.C. Parece que o texto corre por vários sites. E diz que o texto que eu teria escrito, e não escrevi, teria sido divulgado no PÚBLICO em determinada data. Mas vai-se ao jornal desse dia, e não está lá nada disso. Uma fraude inqualificável. No entanto, alguém a perpetrou, certamente com a convicção de que me poderia fazer mossa. Nem pense, estou-me inteiramente nas tintas para gente desta laia. Mas a minha amiga moldava achava que eu estava triste, certamente amarfanhado pelo peso do plágio. E até o meu casaco verde lhe pareceu cinzento. Mas o que mais uma vez se prova é que a forma relativamente anónima e irresponsável com que se pode escrever em mensagens por telemóvel ou mails permite todas as delinquências que é muito difícil punir devidamente.Estamos no domínio da heteronímia dos pobres mas também dos canalhas. Coisas que, por amizade, enternecem um coração moldavo, mas não o meu."

Eduardo Prado Coelho, professor Universitário, in Público 25 Out. 2006

Jorge Santos Silva

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