Hoje, dia 2 de julho passam 76 anos sobre o falecimento de S.M. el-rei D. Manuel II. Morre neste dia de 1932, por asfixia e com apenas 43 anos de idade, o tregéssimo-sexto e último Rei de Portugal, 16 anos volvidos desde a implantação da República.
No dia 2 de Agosto o cortejo funebre chegado de Inglaterra (do exilio), é recebido com honras de chefe de estado pelo governo de Salazar.
O que diziam os jornais do dia:
«Lisboa assistiu ao fineral do último monarca português.
Vai longe o tempo dos grandes enterros reais com coches doirados, com militares de grande gala, com ministros e embaixadores das nações estrangeiras e com criados de vistosas librés. Toda a grandeza e imponência dessas cerimónias acabou quando morreu a monarquia. O enterro do Sr D. Manuel de Bragança teve solenidade, teve tristeza, mas também teve um rigido protocolo que talvez lhe diminuisse a imponência»
Esta foi a parte pró-republica e que provavelmente o jornalista teve de pôr, a seguir vem a descrição, mais real.
«Pelas ruas por onde passou o funebre cortejo a multidão apinhava-se contra os muros das casas, comprimida sobre os passeios e contida pela tropa. Veio gente dos quatro cantos do País para assistir à cerimónia. Durante a manhã, a população encaminhou-se para as ruas do trajecto, os homens de gravata preta, as mulheres de vestidos negros. O ambiente não era de curiosidade. Pairava um ar de tristeza colectiva e em certas caras adivinhava-se um não sei quê de saudade acrabunhante. Nos olhos dos velhos brilharam lágrimas que não havia pressa de enxugar nem vergonha de deixar correr.
No final da cerimónia o povo foi prestar a derradeira homenagem ao seu último Rei.
Durante horas sucessivas milhares e milhares de pessoas entraram no templo, contornaram a eça e sairam ,com a mesma atitude com que entraram: tristes e silenciosos.
Houve que alargar o tempo prescrito para a saudação popular(…)»
«Agora resta a saudade, recordação próxima. Amanhã será o esquecimento que é afinal no que acaba sempre tudo».
Era desta forma emocionada que o jornalista há 76 anos atrás descrevia as exéquias de D. Manuel II, deixando transparecer nas suas palavras que, passados 16 anos desde o golpe que o havia deposto, o povo respeitava como nunca a monarquia e os seus representantes.
